quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um

Um grupo de rapazes e raparigas ensaia a convivência multi-racial na Costa do Marfim.
Estava-se em 1959, muito perto da turbulência política que havia de condenar para sempre o estado de coisas que então se verificava - brancos, com uma qualidade de vida inimaginável, com um natural ascendente sobre negros, com melhor qualidade de vida do que a que viriam a ter em breve mas sufocados pelo preconceito e novo-riquismo de muitos dos primeiros. Crescia a vontade de auto-determinação entre os africanos, cada vez mais conscientes do papel que lhes estava entregue pela comunidade internacional e pelo imperialismo soviético e americano, que lhes acenava com a cenoura da independência na ponta de um duro chicote; a altivez dos europeus, rebolando-se num leito de conforto, acomodava-se a um futuro assente num passado ficcionado.
Pelo meio das conversas, avanços, recuos, danças, paixões e lutas, todas assumidamente ficcionadas, cinéma-vérité que acaba por ser mais do que queria: um documento vivo de uma época colonial à beira do precipício. Uma prova do amor de Rouch por África e pela harmonia, mais do que entre povos, entre seres humanos.

La Pyramide Humaine. Jean Rouch, 1961.