terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Público dá a ler

"... e depois compro o El País, o Público de lá."

De há um certo tempo para cá, venho-me incomodando cada vez mais com esta comparação - que é mesmo uma comparação, mas já lá vamos - muito frequente em relatos de viagens a Espanha ou em saltos de fronteira de quem pela raia vai viajando. A diferença de qualidade dos conteúdos é abissal, mas normalmente cingia-se à comparação directa entre os suplementos culturais de um e outro jornal, não tanto em relação à restante matéria editorial, isto apesar do beato Fernandes.

Romana Borja-Santos decidiu colocar mais peso no sarcófago da publicação da Sonae, traduzindo o artigo de Francesc Relea
(que não Relia) para português politicamente correcto e insinuando a comparação com Kadhafi, quando o jornalista espanhol produz uma mera constatação factual de quem consulta o ranking de duração no poder. Denunciando a vil ousadia, a jornalista mostra ao que vem (mandada?) e ilustra o resto da tradução num tom "vejam lá o que o sacana do espanhol se pôs a escrever". Podia ter acrescentado o seguinte, por exemplo:

La oposición, sea de izquierda o de derecha, coincide en que el régimen político de Madeira tiene todos los tics de una república bananera. En plena Europa.

mas se calhar já é demais, lembrar que a Madeira é parte integrante da União Europeia, uma vez que ninguém precisa de ser lembrado que faz parte, legítima, do território português. Ou precisa? Se calhar é melhor nem falar nisso, tal o despeito com que os responsáveis do governo regional aproveitam cada oportunidade para cuspir no prato em que se faustosamente se lambuzam, ano após ano, com a maior impunidade às custas dos contribuintes madeirenses e continentais, sob o olhar toldado e medroso das autoridades da República, inclusivé o seu indefectível defensor, Aníbal Cavaco Silva, que teve bastas oportunidades de pôr fim ao pagode madeirense, e que nada fez. Como todos os outros, de resto. Se calhar é normal, nos dias que correm, um espanhol indignar-se com o que vê e ouve em território europeu. Ao fim ao cabo, sente-se também espoliado, como as pessoas de bem (para citar maradona) deviam sentir-se, de resto.

Com este artigo, o jornal Público insiste em afastar-se de vez da muito lisonjeira imagem a quem ainda há quem o cole; por outro lado, aproxima-se de mansinho (como convém) a el rei madeirense, que não deve conseguir nem limpar o olho com o dito matutino desde que por lá escrevinhou Vicente Jorge Silva, o seu jornalista predilecto.

Estou certo que, com mais uma "fórcinha", a população do Funchal ainda conhecerá o Público a vinte cêntimos. Vinte, porque a dez já se "vende" o isento Jornal da Madeira, que só não é gratuito porque não pode. Vão ver, está lá tudo o que toda a gente está careca de saber - menos a redacção do Público, que cada vez se aproxima mais da qualidade dos textos que ostenta na sua caixa de comentários, uma montra de obscenidades mentais que insulta a liberdade de expressão e que devia envergonhar quem a promove, uma vez que quem por lá larga as suas sentenças não se enxerga, não se quer enxergar e tem raiva de quem se enxerga.