quinta-feira, 20 de novembro de 2008

considerações de usar pelo lar

A memória pode ser melhor que o presente. E o resto do que tinha para dizer parecia muito bem mas é tão merdoso que não merece nota. Por estas e por outras é que já estou farto de explicar a mim próprio que não devia meter-me nestas coisas de escrever para outrem. Como o crime não compensa, também ninguém lê isto a não ser eu, o que me deixa um tanto ou quanto satisfeito. E porquê, pergunta o meu eu-leitor? Porque -responde o meu eu-que-fez-a-escola-primária-e-por-isso-vai-articulando-uns-verbos - me agrada a perspectiva do velho provérbio, tão raramente verificada; melhor, ninguém tem a obrigação de dizer que gosta do que eu escrevo; melhor ainda, não dou oportunidade a ninguém de me ignorar. Assim já vou comprar tomates mais contentinho, e com menos vontade de ter um encontro imediato com o 30 que sempre aparece sem avisar, mesmo antes de começar a descer a Calçada da Picheleira. E por aí volto ao início: e se ali ficasse a minha medíocre existência, seria provavelmente muito mais útil do que sou agora. Senão vejamos: a quantidade de situações absolutamente imbecis que preencheram (preenchem, meus senhores, preenchem) a minha vida serão infinitamente mais interessantes (numa época que as indústrias culturais estão tão na moda, toda a gente sabe que uma indústria cultural não passa sem café, e o café sem conversa, claro está) do que a minha condição de parasita social, que de tão bem tolerada por mim se torna, dia após dia, num fardo cada vez mais difícil de carregar. Porque não se descarrega o que está entranhado, não se decepa porque não se vê, não se resolve porque não há cura.