Não me lembro da última vez que li uma notícia de jornal sem aspas em notícia nem em jornal; desconfio que deve ter sido em
castelhano.
Haverá futuro para este
pseudo-jornalismo, transpirando agenda política (a falta de
situacionismo também é agenda política)? Imagino alguém, daqui a 30 ou 40 anos, a tentar fazer trabalhos de investigação...
Que não há história no
jornal das facadas (o epíteto não é meu, é do meu avô) não é novidade. A questão é que o espectro se estreitou de tal maneira que a distância que há uma década tinha que se percorrer entre o
Diário de Notícias e o
Jornal de Notícias chega hoje para ir do
Expresso ao
O Crime.É divertidíssimo lembrar este último enquanto ele perde espaço. Não há muito tempo, era um jornal claramente distinto: as revelações da transsexual Lola sobre as preferências dos parlamentares da nossa república, o assassinato do tio pelo sobrinho, instigado pela sua mãe (que por acaso foi minha professora de Francês), por causa da posse do café, papelaria e dois apartamentos em frente ao liceu do Entroncamento (grande marco da minha adolescência, uma página inteira dedicada à terreola num jornal nacional, logo a seguir à coluna assinada pelo Miguel Ângelo, o arquitecto dos Delfins), toda a sorte de aberrações com animais domésticos... Era um mundo à parte.
Trabalhar n'
O Crime nunca deve ter sido tão
difícil.